História do Brasil

ENTENDENDO UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA DO BRASIL.

Segue abaixo um estudo sobre um período da História do Brasil que é fascinante, pois encontramos um país recém formado, de um povo que não se considera cidadão e que praticamente não entende o que é ser brasileiro, que apenas existe, e é aflito por comer o pão. (MUDOU MUITA COISA?)

Podemos ainda encontrar vestígios da época ainda hoje, como por exemplo o coronelismo - quando alguém de muita influência em uma cidade determina regras, ou maior, quando a mídia determina regras na sociedade (eu considero a mídia um coronel da atualidade), a troca de favores que é e sempre foi evidente em todos os governos, ou a oligarquia que é o governo de poucas pessoas - acabando com aquela história de que o Brasil é um país de todos. (DE TOLOS TALVEZ?)

Dispus o estudo abaixo em 6 textos que são:
A PRIMEIRA REPÚBLICA;
INSATISFAÇÃO POPULAR DURANTE A REPÚBLICA VELHA;
SÃO PAULO E O PARTIDO REPUBLICANO PAULISTA - OS INTERESSES;
MOVIMENTO TENENTISTA;
O LEVANTE DO FORTE DE COPACABANA;
A REVOLUÇÃO DE 1924 - SÃO PAULO - "O SEGUNDO 5 DE JULHO"

Espero que gostem!





A PRIMEIRA REPÚBLICA


  • OLIGARQUIAS
  • VOTO DE CABRESTO
  • TROCA DE FAVORES
  • CORONELISMO
A admissão na política não procede mais da eleição e sim de escolha dos que estão de posse da máquina. O homem de maior capacidade que surja não consegue fazer-se eleger pela força de suas idéias e só penetrará na política se de cima lhe derem poder. (CARONE, 1988, apud LOBATO, e PIZA, 1924, p. 130).

No final de século XIX, início de século XX o Brasil é governado por uma república nada democrática e exclusiva, dominado pelas oligarquias paulista e mineira. É a chamada ”República Café-com-Leite” que assumiu as rédeas do país através dos negócios públicos por meio dos Estados mais ricos na época. A Primeira República, República Velha, República das Oligarquias ou República Café-com-Leite iniciou-se após a Proclamação da República com Marechal Deodoro da Fonseca. A partir daí, nasceu um acirramento político entre os centralistas - liderados por Marechal Deodoro, que defendia a existência de um Estado positivista forte e centralizado, contra os federalistas, que representavam as forças políticas dos Estados mais ricos, principalmente São Paulo e Minas Gerais, visando à descentralização do poder e o controle do governo através do Congresso que seria representado pelas oligarquias. Os federalistas temiam que Deodoro instaurasse uma ditadura e acabasse com a autonomia dos estados. A República Café-com-Leite consolidou-se a partir do governo de Prudente de Moraes, e a Presidência da República passou a ser representada, alternadamente por integrantes dos partidos PRP (Partido Republicano Paulista) e PRM (Partido Republicano Mineiro).
O coronelismo (troca de favores entre os coronéis – senhores de terras, e Governo), “um sistema político, uma complexa rede de relações que vai desde o coronel até o Presidente da República, envolvendo compromissos recíprocos” (CARVALHO, 1997) ganha força política em todo o Brasil. Surge devido à falta de centralização e à liberdades locais e “provam que o fenômeno colonial e imperial subsiste inteiro na Primeira República”. (CARONE, 1988, p. 66)

Sobre essa população rala e dispersa dentro de um vasto território (...), reinava como senhor absoluto um grupo de menos de cem mil proprietários de terras, herdeiros, a maior parte, dos privilegiados sesmeiros do período colonial. (Em 1920 eram cerca de 64 mil). (...) senhores de engenho, estancieiros, fazendeiros de café, eram todos os mesmos senhores de terras, dos imensos latifúndios que cobriam todo o vasto território, a dominar agora, uma enorme população que vivia, ou melhor, simplesmente existia, distribuída pelas terras-do-sem-fim. (BASBAUM, 1975, p. 145).

Os coronéis “apadrinhavam” os trabalhadores da terra através do “voto de cabresto” ou “voto de curral” em troca de empregos ou variados benefícios exigindo desses trabalhadores a vida, a obediência e a fidelidade. É por isso que o coronelismo significa força política e força militar, como afirma CARONE.

Eu utilizei os seguintes livros:

BASBAUM, Leôncio. História Sincera da República: de 1889 a 1930. São Paulo: Alfa Ômega; 1986.

CARONE, Edgard. A primeira República (1889 – 1930). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 1988.

 

 

 

INSATISFAÇÃO POPULAR DURANTE A REPÚBLICA VELHA.

A ultima postagem conta a forma de governo dominante no Brasil após 1889 - A Proclamação da República.
  • oligarquias
  • voto de cabresto
  • troca de favores
  • coronelismo
Mas o que seria exatamente OLIGARQUIA?
OLIGARQUIA é um fenômeno histórico e sociológico que ocorreu e OCORRE no nosso país. De acordo com o dicionário Aurélio, OLIGARQUIA é o governo de poucas pessoas, pertencentes ao mesmo partido, classe ou família. Preponderância duma facção ou dum grupo na direção dos negócios públicos.

Você consegue fazer alguma referência ou relação desse termo à organização política do nosso país hoje? Por acaso, quais são os dois maiores partidos que dominam o Brasil atualmente? Se analisarmos isso a fundo, é possível imaginar que ainda estaríamos sendo dominados por uma forma de governo parecida com a da República café-com-leite. MAS ISSO É ASSUNTO PARA UMA OUTRA REFLEXÃO!

Segundo Edgar Carone, "o problema da oligarquia está intrinsecamente ligado à existência do coronelismo. Um oligarca é igual a um coronel, mas, entre eles, a diferença é de escala política. O coronel é um chefe local, o oligarca transpõe seu poder para o estado.”.
Repetindo o conceito de coronelismo, que está descrito no artigo anterior: O coronelismo (troca de favores entre os coronéis – senhores de terras, e Governo), “um sistema político, uma complexa rede de relações que vai desde o coronel até o Presidente da República, envolvendo compromissos recíprocos” (CARVALHO, 1997).
Já o Voto de Cabresto é a forte influência exercida pelo CORONEL sobre a população eleitora do local. 
“Neste contexto, o que se observa é uma série de fatos que evidenciam as desigualdades, injustiças, abuso dos poderosos, desamparo dos despossuídos, preconceito e ausência de lei. É fácil constatar a incapacidade da população brasileira, consequentemente, dos eleitores de tomar decisões adequadas, reivindicar interesses, movimentar-se, reunir-se em associações com a finalidade de mudar sua situação de vida”. (PRADO, Revista Eletrônica Jurídica, 2010, p. 61).
 A população brasileira incapaz entrega nas mãos do coronel o voto pelo meio do qual exerce todo o seu poder. “O eleitor votava na indicação do coronel não porque temia a pressão, mas por dever sagrado que a tradição amoldara.” (PRADO, Revista Eletrônica Jurídica, 2010, p. 61).

Toda essa forma de governo existente no país gera insatisfação popular, alimentada por setores oposicionistas, que vão desde liberais radicais até monarquistas. Essa insatisfação popular é retratada na carta de Monteiro Lobato e Alcibiades Piza ao Presidente Artur Bernardes em 09 de Agosto de 1924.

O estado de espírito do povo brasileiro é de franca revolta. Tomei médias e creio não errar orçando em 90%  o índice das criaturas que, quando se abrem na intimidade, denunciam este estado de revolta. Do espírito de revolta ao espírito revolucionário a transição é mínima. Basta que deflagre um movimento militar para que a passagem se opere e o revoltado se transforme em revoltoso. (...) Esta média elevadíssima espanta-me e posso afirmar que tem crescido sempre, notando-se até entre os próprios empregados públicos. Abrange todas as classes sociais sem exceção, e sobretudo a classe pensante, a parte culta do país. (CARONE, 1988, apud LOBATO, e PIZA, 1924 p. 128).

Diversas rebeliões explodem por todo o país, cada qual visando aos seus interesses e com ideologias próprias:
  • Revolta da Armada (1893);
  • Revolução Federalista (1893);
  • Guerra de Canudos (1893);
  • Revolta da Vacina (1904);
  • Revolta da Chibata (1910);
  • Guerra do Contestado (1912);
  • Conflito de Juazeiro (1914).
  • Movimento Operário e Greves – Uma Greve bastante conhecida é a de 1917, em São Paulo.
(Foto de Sebastião Salgado)
   
Utilizei os seguintes livros e artigos:

Dicionário Aurélio

CARONE, Edgard. A primeira República (1889 – 1930). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 1988.

CARONE, Edgard. Oligarquias: Definição e bibliografia. Disponível em: < http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/10.1590_S0034-75901972000100007.pdf>

CARVALHO, José. Mandonismo, Coronelismo, Clientelismo: Uma Discussão Conceitual. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52581997000200003&nrm=iso&lng=pt&tlng=pt> Acesso em 21 ago. 2011.

PRADO, Viviane. O voto de cabresto e a liberdade: Uma abordagem a partir de Stuart Mill e Alixis de Tocqueville. Disponível em: < http://www.fesurv.br/down/direito/20101_revista_juridica_n1.pdf#page=60>



SÃO PAULO E O PARTIDO REPUBLICANO PAULISTA - OS INTERESSES

O Estado de São Paulo era um dos mais ricos e ascendentes do país, juntamente com Minas Gerais e eram comandados pelas oligarquias, através do sistema coronelista.
O Partido Republicano Paulista era o principal partido político que comandava o Estado de São Paulo, e o Partido Republicano Mineiro comandava Minas Gerais. Os dois elegiam os candidatos que governavam o país, dos vereadores ao presidente da República através do sistema de troca de favores.
O Partido Republicano Paulista foi fundado em 3 de julho de 1873 com intenções de derrubar a monarquia devido principalmente à investida na Guerra da Tríplice Aliança e à Lei do Ventre Livre.

“[...] a iniciativa dos republicanos paulistas de constituir um organismo partidário para combater as instituições monárquicas foi mais precisa e obstinada na elaboração de sua estratégia de conquista do poder. O Partido Republicano Paulista (PRP) foi fundado com o propósito de refletir os objetivos de uma sociedade em ascendência econômica e percebeu, portanto, que, para consolidar o seu domínio, era indispensável substituir um sistema em estado de irremediável desmoronamento”. (RAMOS, CPDOC, s/d)

O PRP nasceu com intenções favoráveis à autonomia das províncias através do regime federativo, a emancipação da população escrava e o fim da monarquia. A abordagem que mais eletrizava a opinião pública era aquela referente à abolição da escravatura, porém as posições do próprio partido referente a essa abordagem eram vagas, pois os perrepistas como eram chamados, não queriam entrar em choque com os setores da classe rural do Estado que não consideravam desejável o fim do trabalho escravo.  A abolição da escravatura foi, então, organizada de maneira gradual, e quando aconteceu, em 13 de maio de 1888. Após essa conquista, os esforços passaram a ser concentrados na derrubada da monarquia, o que aconteceu em 15 de novembro de 1889. Apesar de terem conseguido o que tanto queriam – o fim do regime monárquico, a república inicia-se comandada pela ditadura de Deodoro da Fonseca, porém, alguns cargos importantes foram ocupados por integrantes do PRP, entre eles, Demétrio Ribeiro, que tomou posse no Ministério da Agricultura, “ao qual estavam vinculados todos os negócios relativos ao plantio e exportação das safras cafeeiras” (RAMOS, CPDOC, s/d).
Após 1894, a Presidência da República é governada até o ano de 1906, por três presidentes perrepistas – Prudente de Morais, Campos Sales e Rodrigues Alves. Inicia-se a República de oligarquias.
É o Partido Republicano Paulista que governa, praticamente sozinho, o Estado de São Paulo, com diretórios em diversos municípios do Estado, inclusive no município de Mogi das Cruzes - A CIDADE QUE ME DEDICAREI E FALAR MAIS TARDE!  

DIPLOMA DE MEMBRO DO PRP.
<http://julioprestes.wordpress.com/prp-celeiro-de-estadista/>

Utilizei o seguinte artigo:

RAMOS, Plínio. Partido Republicano Paulista. Disponível em < http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsultar.aspx> Acesso em 12 set. 2010.




MOVIMENTO TENENTISTA.

O DESEJO DE MUDANÇA DOS MILITARES INICIOU-SE APÓS OS MESMOS ENXERGAREM QUE ERAM TOTALMENTE DESPREPARADOS PARA A SITUAÇÃO DE GUERRA!

“O tenentismo é o aspecto ideológico da revolta de uma nova geração”. (CARONE, 1988).

O Exército foi responsável, através de Deodoro da Fonseca, que era militar, pela queda do Império e o início de uma nova era para o Brasil – a República. Também de responsabilidade dos militares foi o fim da Primeira República em 1930.
O movimento Tenentista é o que coloca em cheque a República Velha, porém, o que faz nascer dentro dos militares o desejo de mudança inicia-se, como afirma Trevisan a partir do momento em que “as tropas enfrentavam situação de guerra”, como por exemplo, durante a guerra de Canudos.

Violentos problemas aconteciam quando as tropas enfrentavam situação de guerra. Canudos, por exemplo, implicou em enorme perda de oficiais e revelou total despreparo do corpo de tropa, que necessitou de várias expedições para derrotar “civis”, que nenhum conhecimento bélico possuíam. (TREVISAN, 1982, p. 58)

Esse total despreparo relacionado à prática de guerra, revelado pelo autor, é originário da formação incompetente em caráter bélico que os oficiais recebiam. Tal formação era ideologicamente positivista e voltada à valorização do “bom comportamento, como afirma Trevisan. Os oficiais aprendiam “letras clássicas e poesias”. Formavam-se sociedades literárias, dramáticas. As seções de discussão entre oficiais tinham, por exemplo, como tema: “será possível a paz universal?”” (TREVISAN, 1982, p. 57.)
Após depararem-se com o total despreparo dos oficiais, começa-se a pensar no aprimoramento da formação dos mesmos. Enviam-se, então, por responsabilidade do Ministro Rio Branco, oficiais brasileiros para a Alemanha a fim de receberem treinamento; lembrando que a Alemanha, à época, preparava-se para a Primeira Guerra Mundial.

Rio Branco era entusiasta admirador do exército alemão e envia jovens oficiais brasileiros para servirem nesse exército. Nessa época, a Alemanha prepara-se para a Primeira Guerra; (...). Partem turmas de oficiais brasileiros em 1906, 1908 e 1910/11. (TREVISAN, 1982, p. 58).

Partiram diversos oficiais para a Alemanha a fim de receberem treinamento. O ultimo grupo que retornou procurou reorganizar-se e traçou um plano para difundir o que haviam aprendido na Alemanha, como afirma Boris Fausto.

Seus membros decidiram integrar-se na tropa para dar o exemplo prático aos colegas. Já no ano seguinte fundaram a revista A Defesa Nacional em aliança com alguns oficiais que não tinham ido a Alemanha mas que se identificavam com os mesmos propósitos renovadores. A revista era exclusivamente técnica e dedicou-se a traduzir regulamentos do exército alemão, difundir seu sistema de treinamento, suas práticas e costumes, bem como lutar por medidas como o sorteio, a educação militar, o afastamento da política, a defesa nacional.(FAUSTO, 2004, p. 198)

Tal revista, A Defesa Nacional, provoca certo alvoroço em torno das ideias inovadoras, muitos aderem a elas, outros porém, reagem de forma agressiva por se sentirem ameaçados. Por causa dessas ideias inovadoras o grupo passa a ser conhecido como “jovens turcos” – “referência à renovação nacional que ocorria na Turquia, patrocinada pelo Exército” (TREVISAN, 1982, p. 59). Uma das ideias defendidas, como afirma Boris Fausto, é a Lei do Sorteio Militar para ingressantes no Exército que, em 1915, adere à campanha da lei Olavo Bilac. A Lei do Sorteio Militar procura acabar com a preferência para ingressantes com título de nobreza, que além de possuírem a preferência possuíam melhores condições de salário e melhores postos no Exército. Apesar de a revista A Defesa Nacional causar discórdias através de idéias que contestavam o Exército atual, era necessário admitir que seus jovens organizadores estivessem como afirma Trevisan, profissionalmente mais preparados. A partir de então, em busca de aprimorar-se, o Exército faz diversas modificações em diversos postos a fim de aumentar sua eficiência. Dentre essas modificações estão:

Em 1918, o Exército conquista o término da Guarda Nacional, o que na prática significava assumir o total controle militar interno, desarmando as elites oligárquicas locais. Em 1919 a revista A Defesa Nacional reclama o controle total do processo de seleção. O motivo da reclamação era de que o alistamento ficava a cargo de juntas locais, que se utilizavam desde recrutamento como arma política, em detrimento da eficiência. (TREVISAN, 1982, p. 59)

Analisando a citação,acima é possível perceber o que talvez fossem os primeiros conflitos entre os militares e as oligarquias no Brasil, nota-se também a presença do Coronelismo uma vez que o alistamento era usado como arma política.
Além de todas as modificações feitas no Exército, chega ao Brasil a Missão Francesa, incumbida de dar curso aos oficiais; contratada por um civil, o ministro Calógeras, como afirma Boris Fausto. A Missão Francesa aos poucos, faz com que toda aquela teoria positivista aprendida antes pelos militares seja esquecida e, assim, novas teorias ideológicas são inseridas na aprendizagem dos oficiais, voltados essencialmente à defesa nacional, como afirma Trevisan.
É necessário entender todas essas mudanças ocorridas no Exército para entendermos o que foi a insatisfação militar que culminou nas revoluções Tenentistas da década de 20. A partir dessas mudanças de pensamento, ensinamentos, métodos, ideologia, iniciados com a ida dos jovens oficiais à Alemanha para servirem neste Exército, e aprimorados com a chegada da Missão Francesa com seus novos ensinamentos que os militares começam a questionar o domínio das oligarquias no país, e baseados nesses novos ensinamentos através da Escola Militar do período, uma nova geração de militares começa a formar suas bases contra o sistema oligárquico. “Observemos bem que homens cursaram a Escola Militar neste período. Encontraremos, um a um, os famosos “Tenentes” [...]”. (TREVISAN, 1982, p. 60)


UTILIZEI OS SEGUINTES LIVOS:

CARONE, Edgard. A primeira República (1889 – 1930). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 1988.
FAUSTO, Boris. O Brasil Republicano: 2. Sociedade e Instituições (1889 – 1930). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil S.A., 2004.
TEVISAN, Leonardo. História Popular: A República Velha. São Paulo: Global Ed., 1982.



O LEVANTE DO FORTE DE COPACABANA 

A campanha presidencial de 1922, palco de um novo incidente envolvendo os militares - uma carta falsa atribuída à Arthur Bernardes, candidato governista, ofendendo o Exército – constituiria-se no marco inicial de um ciclo de rebeliões, prenúncio de uma revolta maior, que sacudiram o país ao longo dos anos vinte, historicamente denominado de Movimento Tenentista. (BASTOS e ROCHA, 2004, p. 38).

Iniciada em 05 de julho de 1922, o início da revolta foram cartas atribuídas ao candidato a Presidência Artur Bernardes, publicadas pelo jornal “Correio da Manhã”. As cartas ofendiam as Forças Armadas e o Marechal Hermes da Fonseca, então Presidente do Clube Militar. Mais tarde descobriu-se que as cartas eram falsas.

Examinado o documento forjado, Bernardes só pode encontrar uma pequena diferença em relação ao modo como escrevia habitualmente: o “t” do seu primeiro nome não estava cortado. Foi esse um dos pontos através dos quais se patenteou a falsificação, que seria demonstrada de várias maneiras. (CARNEIRO, 1965, p. 225)

As cartas falsas visavam incompatibilizar a candidatura de Bernardes com o Exército e abrir caminho para a candidatura do Marechal Hermes da Fonseca, como afirma Carneiro. Apesar da certeza da falsificação das cartas, as mesmas são encaminhadas à perícia pelo próprio Bernardes, porém, o perito Serpa Pinto que estava apoiando a conspiração considerou o documento autêntico. Ainda assim, diante de todos esses problemas, segue a candidatura de Bernardes que ganha as eleições, porém não param por aí os problemas com os revoltosos e outro incidente ocorre, envolvendo desta vez o Estado de Pernambuco.
O ex-presidente Epitácio Pessoa, ligado à Bernardes, é acusado de querer entregar o governo do Estado de Pernambuco a seus familiares, após a morte do governador do Estado. Devido a isso, deflagra-se uma luta em Recife e surge aí nova acusação ao Governo Federal que seria a de colocar o “Exército a serviço da causa a que estavam ligados seus parentes” (CARNEIRO, 1965, p. 226). Marechal Hermes da Fonseca, demonstrando-se solidário ao Estado de Pernambuco e acreditando que a notoriedade o ajudaria a retornar ao Catete, redige uma carta ao Comandante da 6ª Região Militar insinuando para que o mesmo não cumprisse as ordens do Governo, como afirma Carneiro. Marechal Hermes da Fonseca é repreendido pelo governo pela autoria da carta e como ele não aceita a punição decreta-se a sua prisão por 24 horas e fecha-se o Clube Militar, presidido por ele. Os revoltosos indignaram-se diante da prisão do Marechal afirmando que isso feria a sua dignidade de oficial-general. É o começo da crise.

A 4 de julho de 1922, o Capitão Euclides Hermes autorizou que seus comandados intensificassem os preparativos do Forte para a revolta, já iniciados há algum tempo. Escavaram-se trincheiras, levantou-se uma rede de arame farpado circundando a entrada do reduto, reabasteceu-se a dispensa com víveres para um mês, proibiu-se a saída de praças, mudaram-se os colchões e o fogo do alojamento da guarda para o interior da fortaleza, encheram-se centenas de sacos de areia para formar barricadas. [...] Às 22 horas, o Forte de Copacabana estava em pé de guerra. (CARNEIRO, 1965, p. 228)

A revolta iniciou-se à 1h20 min da manhã do dia 5 de julho com diversos tiros de canhão, que além de atingirem seus alvos, atingiram também diversas casas, fazendo assim muitas vítimas. A repressão ao Forte inicia-se, até que na madrugada do dia 6 “o Ministro de Guerra, telefonou ao Forte afirmando que a rendição era necessária” (CARNEIRO, 1965, p. 233). Muitos oficiais presos foram, então, postos em liberdade e em seguida, a maior parte dos rebeldes abandonou o reduto. Do total inicial de 301 revolucionários, saíram 272, como afirma Carneiro. Segue o desfecho da revolta.

Dentro do Forte de Copacabana [...] refletia Siqueira Campos no que fazer. Uma decisão da tropa trouxe a diretiva suicida da luta: os derradeiros revolucionários iriam terminar suas vidas lutando peito a peito com as forças do Governo.
Abandonou-se, assim, a idéia inicial de bombardear a cidade.  (CARNEIRO, 1965, p. 235)

Os oficiais seguem então para a Avenida Atlântica a fim de lutar contra o Governo. Na última fase do combate, o total de revoltosos diminui para menos da metade, como afirma Carneiro. Recebem apenas a ajuda de um engenheiro civil – Otávio Correia, amigo de Siqueira Campos, e de Newton Prado. Marcharam pela Avenida Atlântica contra o Governo Federal. Dessa investida heróica sobreviveram apenas dois revoltosos – Siqueira Campos e Eduardo Gomes.

FIGURA 2 - Revolta dos 18 do Forte de Copacabana.
Da esquerda para direita, tenentes Eduardo Gomes, Siqueira Campos, Newton Prado e o civil Otávio Correia.
FONTE:

Combatido pelo próprio Exército como força legalista e anti-revolucionária, o tenentismo canalizou as aspirações de mudanças dos segmentos sociais descontentes, enfrentando os setores autoritários conservadores e influenciando a esquerda revolucionária. (BASTOS e ROCHA, 2004, p. 38).

Derrotados, os militares não se dão por satisfeitos e iniciam a conspiração para a Revolução de 1924, liderada por Isidoro Dias Lopes que possuía estreita ligação com Nilo Peçanha, que havia sido derrotado nas urnas pelo então Presidente da República Arthur Bernardes.

Carta falsa de Arthur Bernardes

FONTE; <http://www.almanaquedacomunicacao.com.br/blog/wp-content/uploads/2008/10/carta-falsa-de-arthur-bernardes.jpg>


UTILIZEI OS SEGUINTES LIVOS E ARTIGOS:

BASTOS, R.; ROCHA, M. Os Militares e a Ordem Constitucional Republicana: de 1898 a 1964. Disponível em: <http://www.buscalegis.ccj.ufsc.br/revistas/index.php/buscalegis/article/view/32688/31887> Acesso em 26 set. 2010.
 
CARNEIRO, Glauco. História das Revoluções Brasileiras: Da Revolução da República à Coluna Prestes (1889/1827). Rio de Janeiro: O Cruzeiro S.A., 1965.




A REVOLUÇÃO DE 1924 - SÃO PAULO - "O SEGUNDO 5 DE JULHO"
Se não houver uma reação séria contra os processos do atual Governo, ao menos um protesto, uma simples manifestação da incompatibilidade crescente entre Arthur Bernardes e a nação brasileira, a República estará morta entre nós [...]”. (CARNEIRO, apud PEÇANHA, s/d).

Sobrado da rua Vauthier no bairro da Luz, onde foi planejado o levante.

LIVRO: História e Energia: A Light e a Revolução de 1924

Acervo do Arquivo Municipal de Mogi das Cruzes

Diversas revoluções aconteceram em 1924, porém aquela iniciada em São Paulo representou o centro das revoltas e a continuação do movimento de 1922, organizada e preparada justamente na data de aniversário do Levante do Forte de Copacabana. Dentre as revoluções que aconteceram em 1924 estão: Levante de Mato Grosso (12/7/1924), Levante de Sergipe (13/7/1924), Levante do Amazonas (23/7/1924), Levante do Pará (26/7/1924) e Revolução do Rio Grande do Sul (29/10/1924), como afirma Forjaz. Tais revoluções tinham por objetivo a derrubada do então presidente do Brasil Arthur Bernardes e as exigências políticas relacionadas na citação abaixo:



[...] voto secreto, combate à corrupção administrativa e à fraude eleitoral, verdadeira representação política, liberdade de imprensa e pensamento, limitação das atribuições do Poder Executivo e restabelecimento do equilíbrio entre os três poderes, ampliação da autonomia do Poder Judiciário, moralização do Poder Legislativo, centralização do Estado e correção dos excessos da descentralização federativa. (FORJAZ, CPDOC, s/d)
 Os revoltosos possuíam armamento pesado e procuravam aliciar diversos soldados e praças afirmando que “a revolução era nacional e que naquele mesmo dia estaria vitoriosa em todo o país” (CARNEIRO, 1965, p. 269). A revolta recebeu também o apoio de estrangeiros que foram atraídos por diversas promessas e dinheiro, como afirma Carneiro. Tais estrangeiros eram de diversas nacionalidades e compuseram três batalhões; “tcheco-eslovacos, austríacos, russos, suecos, suíços e dinamarqueses, exerceram funções na revolta” (CARNEIRO, 1965, p. 274). Totalizaram-se 58 estrangeiros. Esse foi um dos fatos que mais revoltaram os legalistas – “o aliciamento de estrangeiros para lutar contra brasileiros” (CARNEIRO, 1965, p. 274).

Carteira do alemão Carlos Herdler, contratado para pilotar os aviões rebeldes.

LIVRO: História e Energia: A Light e a Revolução de 1924

Acervo do Arquivo Municipal de Mogi das Cruzes

Na manhã de 05 de Julho começaram o bombardeio em São Paulo, visando o Palácio do Governo, porém erraram o alvo diversas vezes, atingindo residências públicas e logradouros “fazendo inúmeras vítimas na população civil” (CARNEIRO, 1965, p. 268). Forças legalistas que dispunham de armamento pesado para ser utilizado em guerra, que foram utilizados na cidade, em meio ao público, também fizeram de vítimas inúmeros civis.

"Aspectos de incendios em São Paulo durante a revolução”.

Revista da Semana, Número Extraordinário, ago. 1924, p. 21.

Acervo AHMWL/SMC


Na noite de 8 para 9 de julho, por exemplo, a artilharia legalista, que estava em Vila Matilde, fez 50 disparos a esmo, sem visar nenhum objetivo, “só com a intenção de levantar o moral da tropa, então muito abatido!”. Resultado: dois incêndios nos Brás, mortes numerosas de civis, inclusive de três crianças da Rua Conselheiro Belisário. (CARNEIRO, 1965, p. 275).

Aspectos de diferentes locais, na cidade de São Paulo, após bombardeio das forças legalistas.

FONTE:  Revoluções Brasileiras – Bellini Cultural – 2009

Acervo do Arquivo Municipal de Mogi das Cruzes

 
A revolta não foi pesada apenas para os soldados, mas principalmente para a população civil que assistiu a todo o conflito no dia-a-dia, saindo às ruas, ouvindo os tiros ou os bombardeios que se faziam a poucos metros de suas casas, ou, muitas vezes, atingindo suas casas.


Aspectos de diferentes locais, na cidade de São Paulo, após bombardeio das forças legalistas.

Revoluções Brasileiras – Bellini Cultural – 2009

Acervo do Arquivo Municipal de Mogi das Cruzes

A revolta deflagrou-se também em trincheiras, em diversos pontos da cidade, e ambos os lados tanto os rebeldes quanto os legalistas, seguiam recebendo reforços, porém as forças legais conseguiram reunir maior contingente e dizimaram as fileiras e posições dos revoltosos, como afirma Carneiro.


Trincheira revoltosa em frente à estação de Sorocaba.

LIVRO: História e Energia: A Light e a Revolução de 1924

Acervo do Arquivo Municipal de Mogi das Cruzes

No início do levante, dispuseram os rebeldes, entre tropas do Exército e da Polícia, de cerca de 2 mil homens. No decurso da ocupação, com as adesões recebidas e a incorporação de batalhões formados com cidadãos estrangeiros, atingia o efetivo 5 mil. E na retirada, que se faria em fins de julho, acompanharam Isidoro perto de 3 mil soldados.
A legalidade dispunha, no começo, de quinhentos homens. Na retirada para Guayauna, já contavam com 2 mil e, naquela localidade e na frente de combate geral, de 14 a 15 mil soldados pegavam em armas contra os rebeldes, a partir de segunda quinzena de julho. (CARNEIRO, 1965, p. 273)

“Uma villa operaria no Braz”.
Revista da Semana, Número Extraordinário, ago. 1924, p. 24.
Acervo AHMWL/ SMC


As dificuldades enfrentadas pelos rebeldes eram muitas e a cada dia pioravam. Escassa munição, escassa alimentação, além de ter de manter a ordem na cidade de São Paulo, à época com 650 mil habitantes. Quando as balas acabavam as posições eram abandonadas e quando a comida acabava, as casas de civis eram invadidas pelos revolucionários a fim de comerem, e isso, muitas vezes, não era bem aceito pela população, como afirma Carneiro. Além de todas essas dificuldades, a pressão legalista, pelo fim da revolta, aumentava, ao passo que a revolução continuava. Morriam muitos revoltosos, o que os deixava desalentados. Decidiram retirar-se para o interior de Estado, “articulando-se posteriormente, com os rebeldes gaúchos, para formar a Coluna Miguel Costa Prestes.” (CARNEIRO, 1965, p. 281).
 
A retirada dos revolucionários foi realizada na mais perfeita ordem, levando eles cavalhada, armamento, munição, artilharia, abastecimento, ambulância, e abandonando pouquíssimo material às forças legais que vieram a ocupar São Paulo. [...] constitui-se essa retirada pacífica um dos enigmas da revolução [...]. (CARNEIRO, 1965, p. 281)

“Aspectos de saque que, infelizmente, campeou em São Paulo”.

Revista da Semana, Número Extraordinário, ago. 1924, p. 10.

Acervo AHMWL/ SMC



“Detalhe do saque na Companhia Puglisi”

LIVRO: História e Energia: A Light e a Revolução de 1924

Acervo do Arquivo Municipal de Mogi das Cruzes


 “Grupo de populares em manifestação das ruas da capital paulista por ocasião do movimento revolucionário de 1924”.
LIVRO: Revoluções Brasileiras. São Paulo: Bellini Cultural. 2009.
Acervo do Arquivo Municipal de Mogi das Cruzes


“Grupo de populares em manifestação das ruas da capital paulista por ocasião do movimento revolucionário de 1924”.

LIVRO: Revoluções Brasileiras. São Paulo: Bellini Cultural. 2009.

Acervo do Arquivo Municipal de Mogi das Cruzes
 
 UTILIZEI OS SEGUINTES LIVOS E ARTIGOS:

CARNEIRO, Glauco. História das Revoluções Brasileiras: Da Revolução da República à Coluna Prestes (1889/1827). Rio de Janeiro: O Cruzeiro S.A., 1965.



FORJAZ, Maria. Tenentismo. Disponível em < http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsultar.aspx> Acesso em 09 out. 2010.