História Geral


DEMONIOCRACIA



 <http://nelsonnaibert.com.br/2014/03/31/os-50-anos-do-golpe-e-a-ditadura-no-brasil/>

A Ditadura Militar no Brasil iniciou-se em 1964, e findou em 1985. O Governo não admitia oposição a seus atos. Torturou e matou centenas, rotulados como “subversivos”. Durante o período militar a vida social e ordem no país eram completamente diferentes ao que vivemos hoje. Para todos os nascidos nesse período, era normal obedecer as regras sem questionamentos, sem “bater de frente”. Já existia uma ordem pré-estabelecida e inquestionável.
      A partir da década de 80, mais precisamente 90, o Brasil sofreu mudanças drásticas referentes à vida social e ordem. O Brasil sonhou e lutou pelas ‘Diretas Já’, e o povo ansiava em participar da vida política do país. Participação ativa, ou indireta por meio da escolha de representantes. Acabou a ditadura, e a nossa vida de lá pra cá mudou drasticamente. O comportamento, a tecnologia, a família, o trabalho, a sexualidade não são mais os mesmos de 30, 40 anos atrás. Todas essas mudanças acabaram por acarretar no fim daquela antiga estrutura social advinda do período ditatorial, e consequentemente na maneira que vivíamos e que vínhamos desempenhando os nossos papeis na sociedade. O nosso ‘mundinho cor de rosa’ desabou, e desde então o país está em choque porque não sabe lidar com aquela palavrinha tão idolatrada nos dias atuais – Democracia. Nunca se ouviu tanto falar em “crise”. É a “crise no casamento”, “crise na família”, “crise nas relações de trabalho”, “crise”, “crise”, “crise”! E a pergunta que me faço é: Por que estamos vivenciando tantas “crises” em vários setores da sociedade se a nossa vida ‘mudou pra melhor’? Afinal, não vivemos mais a ditadura e não somos mais reprimidos e perseguidos. A resposta que encontrei até agora é que não sabemos lidar com Democracia. É difícil demais lidar com a democracia. É cansativo e dá trabalho. É mais fácil mandar e a pessoa obedecer. É mais fácil impor o meu jeito e reprimir. É melhor que andem conforme a música que eu toco. É melhor que se calem enquanto eu falo. É melhor que eu mande, porque eu já sei como é. É melhor que eu mostre o caminho.
Sim, vivemos um choque! Porque hoje a mulher tem autonomia, e portanto não vai ‘obedecer’ ao marido e servi-lo apenas. Ela quer mais! Hoje a criança não vai mais acatar ao que o seu pai diz e simplesmente obedecê-lo. Ela quer saber o por quê, vai questionar, perguntar. Hoje o aluno é mal educado, responde e desrespeita o professor, porque a figura do professor não representa mais o que era pra geração anterior, aliás, o professor da geração anterior usava até a palmatória quando o aluno não obedecia ou não atingia a expectativa cognitiva necessária.
Esta é mais uma “crise”, a “crise da democracia”. Não sabemos lidar com isso. É difícil demais para nós. Queremos sair do país porque esse daqui não tem mais jeito. Onde já se viu beijos de casais homossexuais na TV? Onde já se viu? Na minha época o professor era tão respeitado como o pai da gente. Como pode? Na minha época mulher separada era vagabunda. Acho que a ditadura tinha que voltar pra colocar uma ordem nessa bagunça!
Eis a questão. Você acha que nasceu na época errada, ou prefere reavaliar seus atos e tentar de fato colocar em prática a democracia na sua vida? Porque sinceramente acho que de demagogos o mundo já tá cheio!
Só pra lembrar: de 1889 a 1930 vivemos uma falsa democracia porque vivíamos o período café com leite. De 1930 a 1945 vivemos o Governo Vargas que não era democracia. De 1945 a 1964 tivemos a reestruturação da democracia que durou 19 anos. De 1964 a 1985 vivemos a ditadura militar. De 1985 até agora vivemos a reestruturação e a democracia plena (29 anos). Conclusão: Temos de experiência democrática apenas 48 anos.
De fato, é muito difícil viver a democracia.

Referência: AQUINO, Júlio Groppa. A Questão ética na educação escolar. Disponível em: <http://www.senac.br/BTS/251/boltec251a.htm>

RICHARD WAGNER E HITLER
  
Richard Wagner (1813-1883) foi um maestro, compositor, diretor de teatro, e ensaista alemão. Tornou-se mais conhecido pelas suas produções musicais e óperas que tiravam o fôlego de seus admiradores, entre eles  Hitler.
            No livro "Hitler" Vol. 1 de Joachim Fest, podemos ter uma ideia de como Richard Wagner era admirado por Hitler, tratando o mesmo como um “precursor”.
“De fato, o próprio Hitler asseguraria depois que, à exceção de Richard Wagner, não tivera “precursores”, e se referiu expressamente não apenas ao músico e ao poeta dramático, mas à personalidade poderosa, “a maior figura de profeta da história alemã”. Tinha o costume de frisar com deleite a importância capital de Wagner “para o desenvolvimento do homem alemão”, admirava também a coragem, a energia com as quais se introduzira no plano político e afirmava por vezes que a descoberta de sua afinidade muito íntima com o grande homem poduzira nele, Hitler, “uma excitação quase histíerica.”“(JOACHIM FEST – HITLER. VOL.I, p. 49, 2005.)
            Durante sua mocidade, na cidade de Viena, por noites, Hitler assistia às óperas de Wagner e se fascinava com a música. “Richard Wagner inflamava-o” (JOACHIM FEST. p. 47), e após assistir Tristão e Isolda e Holandês Voador, e escreveu sobre elas a Kubizek: “Assim que as ondas poderosas da música ecoam pela sala e o murmúrio do vento é dominado pelo estrépido terrível da tempestade [!], sentimo-nos transportados ao reino sublime.” (JOACHIM FEST. p. 21)
“A partir do momento em que ele se entregou a seus sortilégios, assistindo com freqüência, por vezes noites seguidas, às apresentações operísticas, a música de Richard Wagner, com seu apelo patético à emoção, sua tonalidade estranhamente encantatória, seu imenso poder de fascínio, proporcionou-lhe certamente um meio de entrar em transe. Nada se mostrava mais de acordo com sua tendência em fugir à realidade do que essa música voltada para o sublime e banhada numa atmosfera de fausto burguês, só ela poderia arrasta-lo irresistivelmente às esferas do sonho.”(JOACHIM FEST – HITLER. VOL.I, p. 21, 2005.)
“Kubizek descreveu a reação de êxtase de Hitler durante a representação da ópera Rienzi, de Wagner, à qual ambos assistiram juntos. Ele fora conquistado não só pela magnificência musical e dramática da obra, como também se emocionara com o destino trágico e solitário do rebelde Cola di Rienzo, esse tribuno medieval que sofre por não ser compreendido pelo mundo exterior.”(JOACHIM FEST – HITLER. VOL.I, p. 21, 2005.) 

Para matar a curiosidade, e talvez avaliar o gosto musical de um dos mais terríveis ditadores da história, aí vão duas óperas de Richard Wagner: Rienzi. e Tristão e Isolda.

RIENZI


TRISTÃO E ISOLDA




Do The Evolution - PEARL JAM
 



Faça a evolução

Eu estou à frente, eu sou o homem
Eu sou o primeiro mamífero a vestir calças, yeah
Eu estou em paz com minha luxúria
Eu posso matar porque em deus eu confio, yeah
Isto é evolução, baby

Eu sou uma besta, eu sou o homem
Tinha ações no dia em que a bolsa quebrou, yeah
Eu sou um caminhão, à solta
Todas as colinas rolando, eu as achatarei, yeah
Isto é comportamento em rebanho, uh huh
Isto é evolução, baby

Me admire, admire minha casa
Admire meu filho, ele é meu clone
Yeah, yeah, yeah, yeah
Esta terra é minha, esta terra é livre
Eu farei o que quiser embora irresponsavelmente
Isto é evolução, baby

Eu sou um ladrão, eu sou um mentiroso
Aqui é minha igreja
Eu canto no coro (interlúdio do coro: aleluia)
Aleluia, aleluia

Me admire, admire minha casa
Admire minha canção, admire minhas roupas
Pois nós conhecemos o apetite para um banquete noturno,
Esses índios ignorantes não tem nada em mim
Nada, por quê?
Porque: isto é evolução, baby!

Eu estou à frente, eu sou desenvolvido
Eu sou o primeiro mamífero a fazer planos
Eu rastejei na terra, agora voo pelos céus
2010, assista isto ir para o fogo!
Isto é evolução, baby
Isto é evolução, baby
Faça a evolução
Vamos,
Vamos, vamos...



VOCÊ É UM ESCRAVO!

Isso é uma afirmação!
Mas você pode me dizer... “claro que não, eu trabalho e ganho meu sustento por isso... escravo de verdade eram aqueles que trabalhavam de graça e eram considerados animais...”
Ok!
Mas eu te pergunto: Qual é a diferença entre você que trabalha para ganhar o seu salário e torrar ele todo com necessidades básicas, e um escravo que viveu na Grécia Antiga, por exemplo?
Muitas???

Atente-se à minha resposta:

LIBERDADE E ESCRAVIDÃO NA GRÉCIA ANTIGA. LIBERDADE E TRABALHO HOJE.

NA GRÉCIA ANTIGA

“Pois foi exatamente a formação de uma subpopulação escrava nitidamente delimitada o que, inversamente elevou a cidadania grega a alturas até então desconhecidas de liberdade jurídica consciente.” (Perry Anderson. Passagens da Antiguidade ao feudalismo. P. 23).

Podemos dizer que a Grécia foi o que conhecemos – O BERÇO DA CIVILIZAÇÃO, RICA EM SABEDORIA, GRANDE EM SEU ESPLENDOR, E UMA SOCIEDADE DE REFERÊNCIA, devido ao modo de produção escravo que foi “capaz de governar a articulação complexa da economia local”, como afirma PERRY ANDERSON, e transformar o conceito de liberdade na antiguidade clássica. A escravidão foi fundamental para a existência da polis, a tal ponto que sem ela toda a sociedade haveria se deslocado, “suprimindo então o ócio das classes mais altas” (PERRY ANDERSON), isto é, a escravidão proporcionou a liberdade do cidadão, passou-se então a existir o homem livre com o aparecimento do homem escravo.

Foi na Grécia, pelo filósofo Aristóteles que surgiu a primeira grande concepção de liberdade. “... Nessa concepção, a liberdade se opõe ao que é condicionado externamente (necessidade) e ao que acontece sem escolha deliberada (contingência). Diz Aristóteles que é livre aquele que tem em si o mesmo princípio para agir ou não agir, isto é, aquele que é causa interna da sua ação ou da decisão de não agir. A liberdade é concebida como o poder pleno e incondicional da vontade para determinar a si mesma ou para ser autodeterminada. É pensada também, como ausência de constrangimentos externos e internos, isto é, como uma capacidade que não encontra obstáculos para se realizar, nem é forçado por coisa alguma para agir. Trata-se da espontaneidade plena do agente, que dá a si mesmo os motivos e os fins de sua ação, sem ser constrangido ou forçado por nada e por ninguém.” (MARILENA CHAUI, Convite à Filosofia. P. 360).

Você ainda acha que você não é um escavo? Então você não tem necessidades? Não é condicionado a nada? Não é forçado a nada, por nada nem por ninguém?

A descrição de liberdade feita por MARILENA CHAUI é a liberdade conhecida e vivida pelos cidadãos da Grécia, praticantes das artes liberais, artes ligadas diretamente ao pensamento, ao conhecimento, à sabedoria. Encaixa-se perfeitamente à quinta concepção de ócio que encontramos no dicionário Aurélio: TRABALHO MENTAL OU OCUPAÇÃO SUAVE, AGRADÁVEL.
Toda a transformação ocorrida na Grécia em relação à liberdade e escravidão acarretou naturalmente na melhoria da economia que avançou devido a essa divisão social do trabalho. – PERRY ANDERSON
A separação entre escravidão ou trabalho servil e liberdade era tão acentuada que não existia uma palavra na língua grega que correspondesse a trabalho da qual a conhecemos hoje. – SILVIA SÔNIA SIMÕES
Para o homem livre, o trabalho era considerado indigno, designado então ao escravo, que não era considerado um cidadão. – PERRY ANDERSON.

A polis dependia sobremaneira da população escrava ou INSTRUMENTUM VOCALIS – INSTUMENTOS FALANTES. Eram encontrados na mais radical degradação rural imaginável de trabalho. Eram convertidos em meios inertes de produção, privados de todo direito social, assimilados à bestas de carga, um grau acima do gado. – PERRY ANDERSON.
A individualidade do escravo era reduzida, e ele era assimilado a uma coisa, um objeto de compra e venda, onde seu preço era muito baixo. Isso fez com que a sua utilização fosse generalizada a tal ponto que até os cidadãos mais humildes pudessem possuí-los, tornando assim a população escrava muito grande, de maneira que ultrapassou o número de cidadãos livres, como afirma. No século V a.C, haveria talvez uns 80 a 100 mil escravos em Atenas, para uns 30 a 40 mil cidadãos, como afirma PERRY ANDERSON.

É interessante a maneira que o próprio escravo analisa a escravidão instituída. Os mesmos não se preocupavam com a abolição da escravatura, mas sim com a condição de indivíduos que eles possuíam, com a assimilação à bestas de carga, com a condição de meros objetos inertes de prosução que possuíam. O escravo pensava em sua escravidão, e não no escravismo, como afirma SILVIA SÔNIA SIMÕES.

O que a história nos apresenta acerca de tudo isso na sociedade Grega é uma grande contradição, considerando que a população escrava foi essencial à Grécia, de tal forma que sem ela a mesma não haveria existido, contrapondo que os escravos eram coisificados, inferiorizados à bestas de carga ou a meros objetos de produção, desvalorizados, mas ainda sim os seres humanos que deram vida à Grécia Antiga.

LIBERDADE E TRABALHO HOJE

O filósofo Jean Paul Sartre levou a concepção aristotélica a seu limite, como afirma MARILENA CHAUÍ. “Para ele, a liberdade é a escolha incondicional que o próprio homem faz de seu ser e de seu mundo. Quando julgamos estar sob o poder de forças externas mais poderosas do que nossa vontade, esse julgamento é uma decisão livre, pois outros homens, nas mesmas circunstâncias, não se curvaram nem se resignaram. Em outras palavras, conformar-se ou resignar-se é uma decisão livre, tanto quanto não se resignar nem se conformar, lutando contra as circunstâncias. Quando dizemos estar fatigados, a fatiga é uma decisão nossa. Quando dizemos estar enfraquecidos, a fraqueza é uma decisão nossa. Quando dizemos não ter o que fazer, o abandono é uma decisão nossa. Por isso Sartre afirma que estamops condenados à liberdade. É ela quem define a humanidade dos humanos, sem escapatória.” (MARILENA CHAUÍ, CONVITE À FILOSOFIA. P. 361)
O que podemos entender com a concepção de liberdade acima é que somos livres para tomar qualquer decisão, inclusive livres para decidir não trabalhar e morrer de fome. Mas, você quer morrer de fome?
É com essa ideia de liberdade que o capitalismo trabalha: VOCÊ É LIVRE PARA MORRER DE FOME, PORÉM, SE NÃO QUISER MORRER DE FOME TRABALHE MAIS, PRODUZA MAIS E CONSUMA MAIS.
Segundo o AURÉLIO, o capitalismo é um sistema social fundado na influência ou predomínio do capital, e tal sistema trouxe uma das três formas de alienação social, que é a alienação econômica. A alienação econômica é aquela da qual o produtor não se reconhece como produtor, nem se reconhece nos objetos produzidos por seu trabalho, como afirma MARILENA CHAUÍ. Atualmente a alienação econômica é dupla: “em primeiro lugar, os trabalhadores, como classe social vendem a sua força de trabalho aos proprietários do capital. Vendendo sua força de trabalho no mercado da compra e venda de trabalho, os trabalhadores são mercadorias e, como toda mercadoria, recebem um preço, isto é, o salário. Entretanto, os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas; não percebem que foram desumanizados e coisificados”.
  Podemos fazer uma relação disso com os escravos gregos que eram reduzidos a meios inertes de produção e objetos de compra e venda, uma vez que na sociedade atual, o trabalhador escolhe vender a sua força de trabalho e recebe um preço por isso que é o seu salário, porém, existe uma grande diferença entre o escravo da Grécia Antiga e o trabalhador de hoje: o escravo não tinha escolha e não podia optar em ser ou não um escravo, já o trabalhador de hoje tem essa escolha e pode optar em trabalhar ou não porque é um homem livre.
Em segundo lugar, na alienação econômica “os trabalhos produzem alimentos, objetos de consumo, instrumentos etc., a “mercadoria trabalhador” produz mercadorias”.
As mercadorias produzidas, ao serem vendidas, parecem estar ali no mercado porque lá foram colocadas (não pensamos no trabalho humano que nela está cristalizado, não pensamos no trabalho humano realizado para que chegassem até nós) e, como o trabalhador, elas também recebem um preço. O trabalhador olha os preços e sabe que não poderá adquirir quase nada do que está exposto no comércio, não enquanto indivíduo e sim como classe social, quem produziu tudo aquilo com o seu trabalho e que não pode ter os produtos porque o preço deles é muito mais alto do que o preço dele, trabalhador, isto é, o seu salário. MARILENA CHAUÍ. P. 173

Vemos que, assim como o escravo foi responsável por dar cida à Grécia e governar a economia local, como afirma PERRY ANDERSON, assim é o trabalhador para o capitalismo, responsável por vender sua força de trabalho a fim de produzir e fazer girar a estrutura do capitalismo, ou seja, a polis dificilmente teria existido sem os escravos, e a sociedade capitalista dificilmente existiria sem o trabalhador.

O rapto de Prosérpina, de Gian Lorenzo Bernini (1598-1680)




Eu utilizei os seguintes livros:
PASSAGENS DA ANTIGUIDADE AO FEUDALISMO - PERRY ANDERSON
REPRESENTAÇÕES DO PENSAMENTO ACERCA DA ESCRAVIDÃO E TRABALHO NA ANTIGUIDADE - SILVIA SÔNIA SIMÕES
CONVITE À FILOSOFIA - MARILENA CHAUÍ
DICIONÁRIO AURÉLIO