Resenhas

Abaixo colocarei algumas resenhas feitas por mim, de alguns livros e filmes, e deixarei minha humilde opinião referente aos trabalhos.

Espero que gostem!!



"O BRANQUEAMENTO DO TRABALHO"




O Branqueamento do Trabalho.
Editora Nefertiti, 2008, 1ª edição.

Ramatis Jacino procura explicar a sociedade de finais do século XIX, focando a transição do trabalho escravo para o assalariado regido pela ótica capitalista, e as implicações que essa transição acarretou. Contudo quando a Lei Áurea foi publicada, em 13 de maio de 1888, apenas 5% da população negra continuava escrava, isso aconteceu devido à introdução de imigrantes europeus no país (o que podemos chamar de branqueamento do trabalho), compra de cartas de alforria, libertação voluntária e fugas; ou seja, o escravismo já havia perdido sua eficácia. É a partir dessas informações que o autor discorre, esclarecendo as medidas tomadas pelo Estado a fim de disciplinar aqueles trabalhadores, que antes estavam sob a responsabilidade de entes privados, e agora estão à mercê da sociedade. O que fazer com aqueles negros que não eram mais escravos e que, na concepção das elites não podiam ser absorvidos pelo mercado de trabalho e pela sociedade, no mesmo nível das demais etnias? Como garantir a continuidade da produção da riqueza nacional com outra forma de trabalho? Forma de trabalho esta que considera agora a compra da força de trabalho, e não a compra do indivíduo, desconhecida para o nosso país e pressionada pela Inglaterra? Essas perguntas são respondidas ao longo do livro, baseado em vasta bibliografia.
O livro trata muito bem da questão higienista que permeava o Brasil no período em questão. O Darwinismo Social que contribuiu para a exclusão do mercado de trabalho não somente os negros, mas também os pobres brancos ou indígenas, considerados contaminados pela miscigenação, e as ações higienistas tomadas pelo Estado baseando-se nessa doutrina. A elite em questão considerava o branco europeu disciplinado, civilizado, moral e culturalmente superior, por isso, justificava-se a substituição dos trabalhadores nacionais pelos europeus. A disputa por trabalho a partir daí contribuiu para a marginalização dos negros e descendentes, e a sociedade construída a partir daí é uma sociedade completamente excludente, porque os imigrantes foram elevados á condição de cidadãos, exercendo trabalhos assalariados e obtendo facilidade na aquisição de terras; já os negros e mestiços brasileiros rebaixados aos trabalhos marginais. Além dessa diferença de tratamento em relação ao trabalho, objetivando alcançar a “modernidade”, os negros também foram expulsos dos espaços urbanos valorizados para lugares mais distantes, ou periferias.

“A “ideologia do branqueamento”, portanto, veio acompanhada da expulsão não apenas do trabalho, como também de espaços urbanos que deveriam ser “higienizados” em busca da modernidade, tanto nas relações de trabalho como nas ocupações daqueles espaços que precisavam dar lugar a uma urbanização e arquitetura que correspondesse à ideia de nação que essas elites queriam construir. Moderno era o trabalho assalariado, a cidade de inspiração europeia, a República, a ser alcançada, o brasileiro de ascendência europeia. Atrasada era a escravidão, a cidade com seus cortiços cheios de negros e vielas insalubres onde os “miasmas” provocavam doenças, a monarquia que ia se esvaindo, a imensa massa de negros e mestiços.” pg. 120 / 121.

A exclusão é nítida em toda a sociedade, o que fez com que o Estado lançasse mão de repressão policial devido ao medo de rebeliões lideradas pelos negros, e a criminalidade, visando com que as mudanças inevitáveis daquela sociedade acontecessem de forma controlada. Todas essas ações então contribuíram para o racismo atual.

“A marginalidade econômica, consequentemente social e política, daquele contingente populacional não foi por omissão da classe dominante e, sim, por suas ações, que tiveram origem na lógica capitalista de se manter um exército de reserva, mas também na concepção ideológica baseada no darwinismo social e na eugenia que contribuíram para elaboração do pensamento conhecido como “ideologia do embranquecimento”, absorvida pelo senso comum e materializada no racismo cotidiano que se manifestou e se manifesta no não reconhecimento do ex-escravo e seus descendentes como cidadãos plenos de direito. P.156

            O texto é útil aos que procuram estudar sobre o fim do período escravista e os fatos decorrentes a partir daí. Muito bom para entender melhor sobre a teoria do “darwinismo social” e o branqueamento do trabalho sustentado por essa teoria, que teve muita força no Brasil. 




"HISTÓRIAS ÍNTIMAS - SEXUALIDADE E EROTISMO NA HISTÓRIA DO BRASIL"




Histórias Íntimas - Sexualidade e erotismo na história do Brasil.
Editora Planeta, 2011, 1ª edição.

Mary Del Priore trata da sexualidade no Brasil, começando no período do Brasil Colônia, até os dias atuais. Texto fácil e gostoso de ler, nos transporta a uma viagem incrível, e nos faz refletir sobre conceitos, preconceitos, hipocrisia, ou qualquer sentimento enraizado dentro da sociedade (dentro de nós), que publicamente escondemos, mas que se manifesta quando estamos a sós, em nossas casas, dentro de quatro paredes.
O livro possui 256 páginas, que são lidas com rapidez, devido à maneira que a autora o escreve, carregado de curiosidades interessantes, capazes de deixar leitores perplexos e pensativos. A nossa sociedade melhorou devido a toda liberdade conquistada, ou piorou? Somos hoje menos preconceituosos, ou guardamos o preconceito por debaixo dos panos?
A sexualidade e o erotismo no Brasil Colônia são duramente reprimidos pela Igreja Católica. O corpo da mulher é estigmatizado, visto como defeituoso devido ao pecado de Eva, pecado este que trouxe maldição à toda terra. A repressão era tanta que o sexo chegou a ser tratado como doença, onde eram destinadas diversas receitas de remédios para conter os desejos, como por exemplo, comidas frias, líquidos frios para banhar o órgão sexual. Devido a toda essa condenação ao sexo, os amantes, a fim de não levantarem nenhuma suspeita, passaram a encontrar-se nos lugares mais incomuns e improváveis para namorar, como nos templos das próprias igrejas; o caso tornou-se tão comum que foi proibida a presença de pessoas casadas nas missas sem seus maridos ou esposas. A Igreja torou-se o lugar número um para encontros sexuais, adultério e fornicação. Até os padres eram vítimas das suas próprias carnes, uma vez que são seres humanos, não escapavam dos desejos.
Já o século XIX é carregado de hipocrisia. O adultério era muito comum entre as famílias, por parte dos homens. A sociedade era patriarcal, o homem poderia ter quantas amantes desejasse, sendo que a mulher legítima devia recolher-se no interior do lar, vestir-se de preto, não se perfumar, e descuidar da aparência, pois sua função era cuidar somente do lar; nada podia conhecer sobre sexo, e o que os homens aprendiam nas ruas com as prostitutas deveria ser reservado somente às prostitutas. A mulher legítima não poderia sentir desejo, pois era necessário que apenas procriasse, e se por acaso a mulher sentisse desejos, era considerada anormal, pois a maternidade deveria anular o desejo nelas. Mulheres que falavam alto eram consideradas histéricas, e nesse caso, o útero estaria dominando seus cérebros. No campo da ciência, a medicina também procurava reprimir a sexualidade, afirmando que era necessário o homem não desperdiçar esperma a fim de evitar fraqueza, o sexo deveria ser muito rápido com sua esposa e destinado somente à procriação. É por isso que não existe nesse período reclamações sobre ejaculação precoce. A homossexualidade é tratada como doença, e começa a receber atenção especial dos médicos.
As primeiras rachaduras no muro da repressão começam no século XX. A multiplicação dos ginásios de ginástica é fator contribuinte para que o olhar e a atenção aos corpos mudassem. É o fim da excitação provocada pelas mãos nas luvas, cabelos com véus e chapéus, pés. O corpo, e a forma de vê-lo são reinventados. É o início da busca constante pelo corpo magro, esbelto e saudável, e o início do corpo feminino em exposição aos olhares masculinos curiosos. A revolução sexual é chegada junto à pílula anticoncepcional, trazendo de vez a liberdade às mulheres. A pornochanchada e pornografia são vendidas aos montes nas bancas de jornal. A moda dos biquínis e a não aceitação a eles. A repressão às mulheres adeptas ao topless. Toda a conquista da liberdade feminina dá início à era dos crimes passionais, sendo que os primeiros crimes ficam impunes, pois o homem devia defender a sua honra. A AIDS volta a colocar em pauta assuntos como abstinência e fidelidade, porém assuntos passageiros. São feitas as primeiras cirurgias transexuais. Crianças precocemente sexualizadas. Separação e famílias chefiadas pelas mulheres. Homens frustrados pelas transformações das ultimas décadas e pelo feminismo, passam a recorrer, cada vez mais às cirurgias estéticas, academias e tratamentos de beleza. E por fim, a maior modificação sofrida pela sociedade até então – a individualização. O término do livro se faz com uma reflexão dura: "Na intimidade podemos levantar todos os véus e nos perguntar quem somos. E quem somos? Indivíduos de muitas caras. Virtuosos e pecadores, oscilando entre a transigência e a transgressão. Em público, civilizados. No privado, sacanas. Na rua, liberados; em casa, machistas. Ora permissivos, ora autoritários. Severos com os transgressores que não conhecemos, porém indulgentes com os nossos, os da família. Ferozes com os erros dos outros, condescendentes com os próprios. Em grupo, politicamente corretos, porém racistas em segredo... Na intimidade, miramos nossas contradições. Resta saber se gostamos do que vemos."
Livro perfeito para que possamos entender melhor a sociedade em que vivemos, tomando por reflexão a sexualidade e o erotismo sempre presentes, porém camuflados e escondidos em épocas passadas, hoje escancarado. Não recomendo somente aos que gostam de história, mas também aos que curtem o assunto sexualidade e erotismo (quem não gosta?). Aos curiosos, tão curiosos que são tentados a olharem pelos buracos de fechadura.




"HITLER - JOACHIM FEST. VOLUME 1."




HITLER - Joachim Fest. Vol. 1.
Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2005. 2ª edição.

O livro de Joachim Fest é muito bem escrito e impressiona a riqueza de detalhes.
Recomendo o livro aos amantes da História e pesquisadores, pois a leitura exige conhecimento histórico e torna-se, em certos momentos um pouco cansativa.

            O livro é dividido em 4 partes e 2 inserções, sendo elas: I Vida Sem Objetivo; Primeira Inserção – A Grande Angústia; II O Caminho da Política; III Anos de Espera; IV Tempo de Luta. Segunda Inserção – Catástrofe ou Conseqüência?.
            Essencial para compreender não somente a vida de Hitler, mas também todo emaranhado de fatos históricos que compunham a época antes e pós Primeira Guerra Mundial.

            A primeira parte (Vida sem Objetivo) é dividida em 5 capítulos que são: As Origens e a Partida / O Sonho Desfeito / Alicerces de Granito / Fuga para Monique / Redenção pela Guerra. Tais capítulos tratam das origens de Hitler, até o momento em que ele combate na Primeira Guerra Mundial.
A segunda parte (O Caminho da Política) é dividida em 4 capítulos que são: Parte do Futuro Alemão / Triunfos Locais / Desafiando o Poder / O Putsch. Tais capítulos tratam do nascimento do Partido Nazista até a tentativa de golpe no Estado.
A terceira parte (Anos de Espera) é dividida em três capítulos que são: A Visão / Crise e Resistência / Dispositivo para Combate. Tais capítulos tratam do período em que Hitler ficou preso após o golpe fracassado, e a crise enfrentada pelo partido durante essa prisão.
E a quarta e ultima parte (Anos de Espera) é dividida em 5 capítulos que são: Ingresso na Grande Política / A Avalanche / Às Portas do Poder / No Objetivo. Tais capítulos tratam do ganho que o Partido Nazista obteve após a crise da bolsa de valores de NY até o momento em que Hitler é declarado chanceler.

Hitler provém de uma região muito pobre do Império Autro-Húngaro, de população essencialmente camponesa e católica, onde casamentos consanguíneos aconteciam naturalmente. Desde o princípio, quando Hitler ainda era um jovem pintor, e sonhador, ele procurava esconder suas origens e idealizar personagens para si. Seu pai era funcionário alfandegário de categoria mais elevada, e queria que o filho também fosse funcionário público, o que Hitler sempre recusou. Sobre seu pai, Hitler o descreve como beberrão o que não era verdade.
            Hitler fracassou em toda sua vida escolar, o que dificultou a realização do sonho de ser artista e pintor. Procurou também ingressar na Escola de Belas-Artes na cidade de Viena, o que foi impedido por diversas vezes. Isso gerou nele uma grande frustração e uma ambigüidade: odiava a classe elitizada por não aceita-lo, mas ansiava fazer parte dela.
            É na cidade de Viena que Hitler recebe sua formação ideológica, tratando essa formação, por ele mesmo, como seus alicerces de granito. Essas ideologias provinham do maestro de óperas Richard Wagner da qual Hitler se espelhava, e mais tarde das doutrinas do Darwinismo Social. Durante esse período, Hitler morou em um albergue para desabrigados, e pintava quadros que era vendido por um de seus colegas de quarto, após um desentendimento com o mesmo, os quadros passam a ser vendidos por ele próprio, ou por outro colega que era judeu. Antes do contado com as ideologias do Darwinismo Social, Hitler demonstrava-se totalmente apolítico, sozinho, e até aí não era anti-semita. Foi acusado de insubmissão por fugir das obrigações militares, e levado por um policial para a Áustria a fim de dar explicações. Apesar de fugir das obrigações militares na Áustria, mostra-se demasiadamente animado com o início da Primeira Guerra Mundial, a ponto de solicitar ser admitido como voluntário num regimento alemão, sua solicitação foi aceita. Lutou em batalhas importantes e demonstrou bravura e coragem, pois foi condecorado pelo menos três vezes, apesar de o mesmo nunca tocar no assunto “para evitar admitir que devia aquelas distinções à interferência do major ajudante do regimento, Hugo Guttman, que era judeu”.
Apesar da guerra, continuava uma pessoa distante em seus pensamentos e devaneios. Segundo ele, a Alemanha havia perdido a guerra devido à propaganda ruim. Já no final da guerra, à 13/14 de outubro, Hitler ficou exposto a um intenso bombardeio de granadas tóxicas que o deixou cego temporariamente. Ficou internado em um hospital, e foi lá que recebeu a notícia de que a Alemanha havia perdido a guerra e sofrido uma revolução, e que “o Reich nada mais tinha a fazer senão confiar de maneira incondicional na magnanimidade de seus antigos inimigos”. Foi um choque para toda a Alemanha e também para Hitler, porém é nesse momento que ele parte para a vida política. Somente aos 30 anos de idade.

PRIMEIRA INSERÇÃO: A Grande Angústia.
GRANDE ANGÚSTIA trata do sofrimento europeu após o fim de seu sistema tradicional de domínio, e o sofrimento alemão diante da revolução, da União Soviética, e do liberalismo democrático. Todas essas aflições e angústias resumiam-se na personalidade de Hitler. O capítulo termina por explicar o que era, e o que ansiava o Fascismo que cultuava o conservantismo e o passado em geral, para fazer frente ao liberalismo, caracterizado por eles como “declínio espiritual”. Rejeitava-se também o racionalismo “que reconhece senão o intelecto e não percebe que a alma e o direito do sangue devem dominar o destino do povo e do Estado” – eis aí também um argumento racista contra todo o movimento liberal. Hitler julgava apenas um culpado por tudo isso – o Judeu, essa era a grande diferença entre ele e todos os outros fascistas da época.

A partir de todas as angústias e sofrimentos, com os objetivos fascistas e racistas, nasce o Partido dos Trabalhadores Alemães, e Hitler envolve-se definitivamente na política, embora ainda dissesse ao seu próprio respeito que era pintor, escritor ou comerciante até mesmo após a primeira reunião pública do partido. Mostrou-se totalmente animado após essa primeira reunião devido à sua aptidão em discursar e principalmente, após a primeira grande manifestação do partido para aproximadamente 2000 pessoas, quando estas interrompiam Hitler por aplausos e vozerio, após a leitura do Programa do Partido que obtinham características anti-capitalista, anti-marxista, anti-parlamentarista, anti-semita e contra a maneira pela qual a guerra fora encerrada e suas consequências.  Após isso, o partido muda seu nome para Partido dos Trabalhadores Alemão Nacional-Socialista e adota a cruz suástica como emblema. O partido recém formado cresce rápido. Crescimento este, todo de responsabilidade de Hitler que é um ótimo orador, que conseguia instigar na população grande ódio pelo sistema vigente – a república e a vergonha do Tratado de Versalhes. O partido conseguiu reunir a simpatia da burguesia temerosa da inflação, e a força da classe operária.
O culto à personalidade de Hitler, e a adesão à sua imagem começam a aparecer neste momento o que o aproximou da vida tão sonhada em sua juventude - a de ser um artista; e o fato de que, estranhamente não mudara durante todo esse período, não manifestando “uma só tendência à renovação, uma experiência pessoal. Hitler sempre permaneceu aquilo que fora um dia, imóvel, e como petrificado.”.
O partido de Hitler procurava desafiar a atacar o poder republicano instaurado na Alemanha; devido a isso, Hitler teve que cumprir quatro semanas de prisão dos três meses a que fora condenado, a fim de que o mesmo compreendesse os “limites de tolerância das autoridades”.
A Alemanha neste momento está vivendo uma crise tremenda, onde a inflação toma proporções catastróficas e diversas revoltas explodem em toda a parte urbana.
A veneração à imagem de Hitler aumenta e toma forma de culto, tomando seu ponto culminante na segunda quinzena de abril, por ocasião de seu aniversário.
Devido à situação alarmante de todo o país, nota-se que “milhares de homens estavam na expectativa de quaisquer instruções” – PG. 193. Surge o receio de futuramente não conseguir conter mais os homens ávidos de uma revolução contra a república, homens desempregados, famintos, desnorteados que apresentavam a Alemanha em 1923. Tudo indicava ao partido que um Putsch era a saída para todos os problemas, então começam a organizá-lo para o dia 09 de novembro de 1923, liderado por Hitler. Uma primeira barreira policial tentou barrar a marcha dos revolucionários, sem êxito. Uma segunda conseguiu parar-lhes com uma fuzilaria. Diversos mortos e feridos, Hitler, aproveitando da algazarra formada, conseguiu escapar numa ambulância, abandonando a todos que estavam em meio àquele caos que fora liderado por ele e, anos mais tarde justificou essa atitude afirmando que “teria salvo uma criança abandonada em meio à fuzilaria”, justificativa que foi desmentida mais tarde. O fracassado Putsch rendeu a Hitler o veredicto que previa a pena de no mínimo cinco anos de reclusão e a aclamação da multidão, que passou a unir-se e manifestar fortemente em seu favor. Além disso, trouxe uma concepção mais madura de política a ele, que pouco a pouco, mudou seu discurso violento visando uma ligação com o poder a fim de ganhar crédito.
            Hitler, apesar de ter sido condenado a 5 anos de prisão, recebeu anistia passados pouco mais de 6 meses por bom comportamento. Apesar de ter ficado pouco tempo, foi na prisão que ele passou, de fato, a assumir uma postura messiânica – o salvador da Alemanha. Recebera volumosas correspondências na prisão, e foi homenageado pelo seu aniversário. Seus colegas ocupavam-se na manutenção da limpeza de seu quarto e paravam para ouvir suas palavras. Foi durante esse período que Hitler se ocupou a escrever o primeiro volume de seu livro Mein Kampf, livro este que contém sua ideologia antissemita e racista. Hitler, ao escrever o livro, preocupava-se em não fazer citações, pois queria demonstrar-se autodidata.
É a partir da prisão do líder, que o partido sofre uma crise causada principalmente após a Alemanha começar um período de estabilização da moeda após o empréstimo feito pelos EUA. “Cessara a excitação do ano anterior, dissipara-se a histeria, e a exaltação dera lugar ao morno desenrolar da vida cotidiana.” – PG. 242.
            Apesar de seu triunfo perante o tribunal, Hitler cai em descrédito, passando a ser esquecido e ganhando ares de político fracassado, porém continuava mostrando dentro do partido intransigência e exigia de todos submissão absoluta. Toma atitudes a fim de reorganizar o partido, e resiste perante seus adversários políticos. Continua com sua visão sonhadora de mudar o mundo e não demonstra desânimo ou resignação apesar das circunstâncias demonstrarem-se totalmente contrárias a ele.             Muda-se para uma casa alugada, e chama sua meia irmã Angela Raubal, para tomar contra desta casa, é neste momento em que conhece sua sobrinha Geli, pela qual se apaixonara.
            Após a saída da prisão, Hitler começa imediatamente a reorganizar o partido e reconquistar a autoridade que havia sido perdida durante o período em que estivera preso. Organiza definitivamente a SA, que deveria ser acima de tudo, um “instrumento de propaganda e de terror político” PG. 266. Das ideias socialistas serviu-se por pura conveniência, não abraçando nenhum de seus ideais. O Partido fora forçado a procurar novos adeptos devido à estagnação. Parte então, a falar aos camponeses.            
Os ciúmes de Hitler para com sua sobrinha aumentam durante esse período.
            A situação não é nada propícia aos desejos de mudança representados no Partido, porém, é devido à Crise da Bolsa de Valores de NY que o Partido ganha novas forças. Hitler faz alianças, passa a investir em propaganda, e começa a demonstrar um estilo de radicalismo e violência sem par; aí na propaganda pode citar seu exibicionismo – pensava no efeito, e calculava o que seria popular. Aproveitou a crise econômica, onde os desempregados na Alemanha ultrapassavam três milhões. Não possuía plano ou qualquer teoria sobre a crise, porém sabia muito bem apontar os culpados.
            O partido cresce muito e ganha milhares de adeptos. O grande número de cadeiras conseguidas pelo partido soma-se à rejeição que o povo tinha em relação à República. O resultado dessa vitória pelo partido Nazi foi por muitas vezes descrito como uma “avalanche”. O partido demonstra uma ambiguidade inquietante referente à legalidade, pois as SA transformara-se em um exército maciço que espalhava uma atmosfera de paralisia e terror, que serviu ao propósito de instituir uma ditadura.
Os atos de violência dos nazis e comunistas, ambas contra a polícia mostravam até que ponto estava minada a autoridade do Estado. Em vez das autoridades prenderem Hitler, queriam negociar. Nota-se mais ainda a ineficácia do poder do Estado e da República, e no final, as divergências de opinião dentro do governo, faziam aumentar a confiança de Hitler, que de modo algum aceitava os acordos oferecidos.
Para o Partido, estava cada vez mais difícil manter-se na legalidade.
São expostas as questões referentes ao suicídio de Geli Raubal, o estranho relacionamento de Hitler com as mulheres, e a facilidade que ele tinha em doutrinar a massa, e trata-la como uma fêmea. Interessante analisar como o autor coloca o caráter sexual nos comícios de Hitler, quando ele conduz as massas ao êxtase.
            Após tantas idas e vindas, o partido sofre nova invertida. Sua baixa, perda de cadeiras e a grande falta de dinheiro deixavam o partido a ponto de extinguir-se. Em novembro de 1932, o número total de desempregados era de 8,75 milhões, e o país entra em mais um inverno de sofrimentos. Hitler demonstra-se demasiadamente nervoso diante da ameaça de extinção do partido. “Se o partido desmoronar, em três minutos acabarei comigo com uma bala de revólver” – Hitler.
            O que fez com que o Partido Nazi subisse novamente foi a aliança entre Hitler e Franz Von Papen – esse encontro foi chamado com razão de o nascimento do terceiro Reich, e a situação financeira do partido tem uma súbita melhora.
            É a partir daí, que Hitler visa a Chancelaria. Pressiona o filho do presidente, chantageando-o com intrigas referente à corrupção, e o caminho se abre para Hitler.
            Hitler é declarado novo chanceler em 30 de janeiro de 1933.

SEGUNDA INSERÇÃO: Catástrofe ou Consequência?
CATÁSTROFE OU CONSEQUÊNCIA traz reflexões do autor referente à pergunta: O partido Nazi e Hitler fora uma catástrofe ou uma consequência na Alemanha?
            Compara o fascismo alemão com o de outros países e chega à conclusão de que nunca, o nacional-socialismo seria o que foi sem seu grande personagem - Hitler.

            

"INDIFERENÇA, LOUCURA E SOLIDÃO"






SÃO BERNARDO – Graciliano Ramos
Rio de Janeiro, Editora BestBolso, 2011. 2ª edição.

Paulo Honório é o narrador de sua própria história. História de vida egoísta e mesquinha, pois a todo o tempo demonstra ser um homem preocupado somente com seus negócios, até quando resolve se casar, não porque estava apaixonado, mas porque tinha o interesse de deixar um herdeiro para as suas terras, as terras de São Bernardo.
                Casa-se com a professora Madalena que lhe dá um filho, porém o casamento não é feliz, no momento em que a professora descobre quão egoísta era seu marido. A partir daí, Paulo Honório começa a entrar em crise consigo mesmo, a tal ponto de comparar a sua aparência com a de um monstro, e pensar que suas mãos grandes e feias não poderiam “acariciar uma fêmea”.  O ciúme passa a corroer o coração de Paulo. Ele que dominava tudo e todos, não consegue dominar a si mesmo, e a seu ciúme.
Não consegue ter amor ao único filho, o casamento termina em tragédia, e seu fim é a solidão nas terras que deu boa parte de sua vida a cultivar.
No final, deu a impressão de que ele nunca soube o que era ser feliz, porque em toda a sua vida preocupou-se em correr atrás das riquezas, esquecendo-se de amar, não permitindo ser amado.
Típica história que dá aquele nó na garganta, e que faz você refletir alguns dias...
Livro recomendado!
:D



"O INSTANTE DE GLÓRIA DE CADA UM"




A HORA DA ESTRELA – Clarice Lispector
Rio de Janeiro, Editora Rocco, 1998. 1ª edição.

O livro é uma narrativa do escritor Rodrigo S. M., que trata-se de um personagem de Clarice Lispector. O livro conta a história de uma nordestina órfã chamada Macabéa, nordestina essa que nunca, em sua vida, recebera atenção especial de alguém. Fora criada por uma tia beata e recebera da mesma uma educação rígida. Após a morte da tia, muda-se para o Rio de Janeiro, onde aprende a datilografar num curso “ralo”. Vive a sua vida, sem grandes emoções ou riscos, apenas vivia, trabalhando como datilógrafa, orgulhando-se disso, aliás, orgulhava-se apenas disso, em toda a sua vida.
O narrador mostra a personagem principal do livro, a Macabéa, como uma moça feia, chegando a afirmar que o corpo da mesma era “careado”, e que seus ovários eram murchos. Era muito magra, e tinha os ombros encurvados, e “seu cheiro era morrinhento” (p. 27). Acreditava em tudo aquilo que existia, e não passava pela cabeça da mesma que existiam outras línguas além do “brasileiro”. Pedia perdão por tudo, e não se vingava de ninguém.
É a história de uma pessoa que passa despercebida, sendo que as únicas ligações que tinha com o mundo eram, ora através de um namorado, que acabou terminando o romance, ora através de uma colega de trabalho que roubou esse namorado dela, ora com seu chefe, que geralmente escrevia palavras difíceis das quais ela de apaixonava. Uma moça sem encantos.
Mas o que na minha opinião o escritor mostra de mais importante é que, independente da classe social de cada um, todos deveriam se identificar, de alguma maneira com aquela história, nem que seja no momento final. É o que realmente acontece com todos nós, na “hora da estrela”, que “é o instante de glória de cada um”, tornar-se brilhante como uma estrela de cinema...

História emocionante!
Recomendo o livro!

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